Vaginismo:
Mulheres que não conseguem ser penetradas.
“Eu não me sinto uma mulher completa”, diz. “Fico pensando que, a
qualquer momento, meu namorado pode desistir de mim e procurar outra”. Aos 37
anos, a advogada P* nunca foi penetrada. Ela deseja, mas simplesmente não
consegue. Os músculos de sua vagina se contraem de tal forma que a dor é
inevitável. Uma ginecologista procurada por P* riu dela – aonde já se viu uma
“virgem com esta idade”? Fosse mais informada e humana, poderia ter explicado
que P* sofre de vaginismo. Uma disfunção sexual que, segundo estudos
americanos, atinge entre 3% e 5% da população feminina.
Dois anos atrás, eu desconhecia o drama silencioso vivido por essas
mulheres. Quem me contou foi a ginecologista e sexóloga Carolina Ambrogini,
coordenadora do Projeto Afrodite/UNIFESP, um ambulatório incrível que
atende pacientes com disfunções sexuais. “Nath, às vezes, não entra sequer um
cotonete”, ela comentou comigo durante um congresso. “Como assim? Mas isso é
físico? Elas nascem com vaginas fechadas?”, quis saber. “Não, tem a ver com
questões emocionais, personalidade controladora, influências religiosas…”,
Carol explicou, me deixando ainda mais confusa.
P* teve uma educação muito católica. Filha mais velha de pais
conservadores, sempre foi pressionada para “dar o exemplo” e tinha PAVOR de
engravidar. Embora as primeiras experiências sexuais tenham sido sofríveis, ela
imaginou que iria “destravar” com o tempo e conseguiria ter uma relação
“plena”. Foram anos de angústia e frustração. Nunca conversou com as irmãs ou
amigas sobre o assunto “porque é vergonhoso”. O namorado, com quem está há seis
anos e meio, é bastante compreensivo. “No início do nosso relacionamento, ele
buscava maneiras de me relaxar. Não colocava pressão para a penetração a todo
custo. Dizia que isso acabaria acontecendo e o que a gente fazia também era
sexo”.
Quando procurou a Drª. CAROLINA, P* não tinha ideia de como seria o tratamento
– consultas com um psicólogo, talvez? Ficou surpresa ao descobrir que um dos
exercícios seria com próteses de diferentes tamanhos. P* evoluiu rápido e ficou
animada com os progressos, mas retrocedeu ao deixar de lado as recomendações.
“Infelizmente, não é simples”, diz, determinada a retomar a prática que lhe
permitirá ter relações com penetração. “Mas é possível”. Saiba como na
entrevista abaixo e, se necessário, procure ajuda no Afrodite: R. Embaú,
66, na Vila Clementino, em São Paulo, (11) 5549-6174.
- O vaginismo provoca espasmos involuntários nos músculos da vagina. Mas
qual a intensidade dessas contrações? Elas realmente “travam” e “fecham”
completamente a entrada da vagina, impossibilitando a penetração?
Drª. CAROLINA - Na verdade, esta definição de espasmos e contrações é bem questionável e já está mudando. O que define o vaginismo é uma impossibilidade de ter penetração vaginal, fazer exames ginecológicos, colocar OBs, etc, independente se esta contração é observada ou não. Lá na Unifesp (ela coordena o Projeto Afrodite) que a mulher com o vaginismo tem toda uma questão emocional e até um de tipo de personalidade que a faz ter medo da penetração - uma fobia mesmo. Muitas nem referem dor, e sim uma agonia.
Drª. CAROLINA - Na verdade, esta definição de espasmos e contrações é bem questionável e já está mudando. O que define o vaginismo é uma impossibilidade de ter penetração vaginal, fazer exames ginecológicos, colocar OBs, etc, independente se esta contração é observada ou não. Lá na Unifesp (ela coordena o Projeto Afrodite) que a mulher com o vaginismo tem toda uma questão emocional e até um de tipo de personalidade que a faz ter medo da penetração - uma fobia mesmo. Muitas nem referem dor, e sim uma agonia.
- Essa contração é temporária (só acontece durante o sexo) ou permanente?
Drª. CAROLINA - Como expliquei, a mulher pode ter a contração mediante a introdução de qualquer coisa dentro da vagina. É algo maior que ela, simplesmente a impede de ter um contato saudável com a própria vagina. Claro que a resposta deste medo ou fobia pode ser traduzida numa tensão muscular, mas esta não é a gênese do problema e sim uma consequência, entende?
Drª. CAROLINA - Como expliquei, a mulher pode ter a contração mediante a introdução de qualquer coisa dentro da vagina. É algo maior que ela, simplesmente a impede de ter um contato saudável com a própria vagina. Claro que a resposta deste medo ou fobia pode ser traduzida numa tensão muscular, mas esta não é a gênese do problema e sim uma consequência, entende?
- A disfunção causa dor constante à mulher ou só nos momentos em que há
tentativa de penetração? Sangra?
Drª. CAROLINA - A disfunção aparece somente quando a mulher tenta algum tipo de introdução na vagina. Fora estes momentos, não há nenhum outro sintoma.
Drª. CAROLINA - A disfunção aparece somente quando a mulher tenta algum tipo de introdução na vagina. Fora estes momentos, não há nenhum outro sintoma.
- Muitas disfunções sexuais têm ligação direta com o nosso estado
psicológico e a nossa bagagem emocional. É o caso do vaginismo? Quais são as
principais causas?
Drª. CAROLINA - Tirando alguns casos de mulheres que desenvolveram dores vaginais por questões físicas, o vaginismo primário, que é o mais comum, tem causas emocionais. A presença de uma educação rígida e religiões que enaltecem a virgindade, por exemplo, tem influência. Somente uma pequena parcela se deve aos casos de abuso sexual. Na Unifesp, estudamos muito essa disfunção e achamos que tem muito a ver com pacientes mais controladoras, ansiosas e que tem outras fobias associadas.
Drª. CAROLINA - Tirando alguns casos de mulheres que desenvolveram dores vaginais por questões físicas, o vaginismo primário, que é o mais comum, tem causas emocionais. A presença de uma educação rígida e religiões que enaltecem a virgindade, por exemplo, tem influência. Somente uma pequena parcela se deve aos casos de abuso sexual. Na Unifesp, estudamos muito essa disfunção e achamos que tem muito a ver com pacientes mais controladoras, ansiosas e que tem outras fobias associadas.
- De que forma a disfunção afeta o dia a dia, o relacionamento e a vida
sexual da mulher?
Drª. CAROLINA - Muitas mulheres têm contato sexual com o parceiro – conseguem ter desejo, excitação e orgasmo. Só não tem a penetração vaginal. A tendência delas é “ir levando” a disfunção porque geralmente têm o que chamamos de parceiros “vagínicos”. Eles são “bonzinhos", respeitam o vaginismo e não cobram. Um perfil de homem ideal para controladoras como elas. Mesmo assim, elas se sentem péssimas, como se devessem sempre algo a eles e não fossem mulheres normais. Sem falar que não conseguem fazer exames nem engravidar. Essas pacientes chegam muito sofridas, ansiosas e desesperadas por profissionais que as compreendam, pois já passaram por diversos ginecologistas que acham que é frescura ou dão orientações erradas - até as chamam de loucas. E, sim, alguns parceiros não aguentam a situação e terminam o relacionamento.
Drª. CAROLINA - Muitas mulheres têm contato sexual com o parceiro – conseguem ter desejo, excitação e orgasmo. Só não tem a penetração vaginal. A tendência delas é “ir levando” a disfunção porque geralmente têm o que chamamos de parceiros “vagínicos”. Eles são “bonzinhos", respeitam o vaginismo e não cobram. Um perfil de homem ideal para controladoras como elas. Mesmo assim, elas se sentem péssimas, como se devessem sempre algo a eles e não fossem mulheres normais. Sem falar que não conseguem fazer exames nem engravidar. Essas pacientes chegam muito sofridas, ansiosas e desesperadas por profissionais que as compreendam, pois já passaram por diversos ginecologistas que acham que é frescura ou dão orientações erradas - até as chamam de loucas. E, sim, alguns parceiros não aguentam a situação e terminam o relacionamento.
- Como é o tratamento e que profissionais ele envolve? Dá pra dizer que
vaginismo tem cura?
Drª. CAROLINA - O tratamento envolve uma avaliação completa da parte emocional e física. No Projeto Afrodite, da Unifesp, contamos com uma equipe multidisciplinar. Nos casos mais graves, a mulher é encaminhada à terapia para resolver algumas questões emocionais e conseguir fazer o tratamento com nossos ginecologistas ou fisioterapeutas. É um trabalho de dessensibilização, uma técnica de relaxamento para que a mulher se acalme e permita o toque. Depois, a próxima etapa é a conscientização da musculatura peri-vaginal, coxas e glúteos. Finalmente, evolui para penetrações progressivas com dilatadores vaginais de tamanhos crescentes. Eles não são usados para “dilatar” a vagina, mas para que a mulher se acostume com a sensação da penetração e vá perdendo o medo. Muitas começam com a introdução de um cotonete. Os casos com maior fobia evoluem de forma mais lenta, enquanto aqueles com mais dor e menos fobia evoluem mais rápido.
Drª. CAROLINA - O tratamento envolve uma avaliação completa da parte emocional e física. No Projeto Afrodite, da Unifesp, contamos com uma equipe multidisciplinar. Nos casos mais graves, a mulher é encaminhada à terapia para resolver algumas questões emocionais e conseguir fazer o tratamento com nossos ginecologistas ou fisioterapeutas. É um trabalho de dessensibilização, uma técnica de relaxamento para que a mulher se acalme e permita o toque. Depois, a próxima etapa é a conscientização da musculatura peri-vaginal, coxas e glúteos. Finalmente, evolui para penetrações progressivas com dilatadores vaginais de tamanhos crescentes. Eles não são usados para “dilatar” a vagina, mas para que a mulher se acostume com a sensação da penetração e vá perdendo o medo. Muitas começam com a introdução de um cotonete. Os casos com maior fobia evoluem de forma mais lenta, enquanto aqueles com mais dor e menos fobia evoluem mais rápido.
- O que você diria para encorajar uma mulher que convive com o problema,
mas nunca procurou ajuda?
Drª. CAROLINA - Dificilmente uma mulher com vaginismo nunca procurou
ajuda. O fato é que demora em achar informações e profissionais habilitados
para tratá-la. Temos altas taxas de sucesso nas pacientes que realmente se
dedicam, fazem os exercícios e seguem as orientações. Não há cura milagrosa,
mas à custa de muito esforço e determinação.
Projeto Afrodite/CATVA- Unifesp: 5549-6174 (das 7-16hs)
Consultório médico SP- 3539-0084
Blog da Drª CAROLINA: http://carolambrogini.blogspot.com.br/2013/02/vaginismo-e-endometriose.html
Perfil no G1: https://plus.google.com/101056967184907630596
Comentários
Postar um comentário